quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Encontro do Grupo de Pesquisas Rastros Urbanos:

Quando: O encontro que aconteceria Quarta- feira, 25/15/2015, às 14h foi REMARCADO para próxima Quarta, 02/12/2015, às 14h. Agradecemos a compreensão.

Onde: Dep. de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará - CH III. 

Textos a serem discutidos:

CALVINO, Ítalo.  A palavra escrita e não escrita. In: Usos & abusos da história oral/ Janaína Amado e Marieta de Moraes Ferreira, coordenadoras. - 8. Ed. - Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. 

AGIER, Michel. Introdução e primeira parte. In: Antropologia da cidade: lugares, situações, movimentos. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2011.

O material encontra-se disponível na xerox da Vânia, no dep. de Ciências Sociais.

Todxs são muito bem-vindxs!

segunda-feira, 16 de novembro de 2015



Quem brinca no território do brincar?

O corpo não traslada, mas muito sabe, advinha se não entende.                         (GUIMARÃES ROSA, Grande Sertão: veredas, 2006, p. 29)

BRUNO DUARTE NASCIMENTO
GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS- UFCE.
GRUPO RASTROS URBANOS.



revistacrescer.globo.com Território do Brincar (Foto: Reprodução)

O corpo brinca no território do brincar. Pelo o menos foi esta minha impressão após assistir ao  documentário Território  do  brincar:  um  encontro  com  a  criança  brasileira (2015). O longa-metragem abre com uma belíssima cena: eis uma menina que se joga numa duna. O corpo rola na areia.  Um sorriso no rosto da menina. Momento feliz, transbordante: o corpo vaza alegria, iluminando-se com  o  sol,  polindo-­se  com  os  grãos  de  terra. Radiante. Naquele  momento,  a  jovem  não  estava preocupada com o sujar da roupa, com o comportar-­se “de acordo com os bons modos,  bons  modos  de  menina”, ou com a possibilidade de machucar-­se. Não. Era o “instante­ já”  (lembrando Água Viva (1998) de Clarice Lispector), tempo seu, vivido até a última gota, tempo  que é, mas que rapidamente se foi. Experimentação do brincar, ou o brincar é uma experiência?  O  brincar  não  está  pronto, posto, acabado. Brincar é “vereda”, “travessia” (lembrando Grande  sertão:  veredas  (2006)  de Guimarães Rosa), metáforas ­viva da vida que se vive e está  a  se  (re)fazer,  a  se  (re)construir  a  cada  instante. É  uma  realiz(ação)  constante. É um jogar­-se na  correnteza  pulsante  da  vida.  “viver  não  é  muito  perigoso?”  (GUIMARÃES  ROSA,  2006). De  acordo com Dawsey (2005), a palavra “experiência” tem origem indo-europeia (especificamente  o radical “per”), cujo significado denota: “tentar, aventurar­-se, correr riscos. Experiência e perigo  vêm  da mesma  raiz”.  (DAWSEY,  2005,  p.  163).  Com isso em vista, acredito que é possível  pensar na experiência do brincar como uma aventura, uma experimentação da vida, ou melhor, um modo de conhecimento da realidade através do corpo que brinca, isto é, como a experiência do brincar aciona todos os sentidos da percepção humana. É um conhecer através do corpo. É o  corpo que brinca, conhece. Afinal, o que é brincar? Há uma forma única de brincar?  Brincar não  é muito perigoso? Pelo o menos do ponto de vista das crianças do documentário, não. Ali, vi pés  que correm na areia, nos asfalto, no mangue, no barro. Vi mãos que mexem e remexem na terra.  São texturas, tamanhos, pesos e alturas sentidos. Vi olhos e ouvidos que aprendem a se colocar  atentos diante da paisagem local; paladares que se arriscam na caça, feitura e experimentação  da  merenda.  Sons,  cores,  horizontes  e  gostos  sentidos,  ou  nos  sentidos.  É  como  o  corpo  experimenta o brincar. É o corpo na brincadeira. Ao ter quaisquer objetos e lugares nas mãos,  as  crianças  abrem  novas  possibilidades de construção do brincar. Pedaços  de  madeira  transformam-­se em teto de casa para a brincadeira; tornam-­se uma grelha para assar o peixe  que há pouco foi tirado do rio; o recorte de pedaços de chinelos velhos viram rodas de carrinhos;  O menino faz uma roldana automática utilizando o corrimão da escada de sua casa; a menina  toma o barro e com uma fôrma dá forma a um bolo. Meus olhos viram alegria, espontaneidade,  criatividade  nos  olhos  das  crianças. Reflexos. Lembrei­-me  de  ser  criança, ou  de  que  preciso (re)aprender a ser criança, ou que tenho muito a aprender com as crianças, enfim, como já dizia  Manoel de Barros: “quando eu crescer vou virar criança” também. 

Referências:
 DAWSEY,  John  C.  Victor  Turner  e  antropologia  da  experiência.  Disponível  em: 
  <http://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/50264>
LISPECTOR, Clarice. Água viva. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998. GUIMARÃES ROSA, João. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 2006.
*** Este texto versa sobre minhas primeiras impressões ao assistir o documentário Território do 
brincar:um encontro com a  criança brasileira (2015). 
Agradeço também a  conversa após a exibição do longa-metragem com  aos  colegas Mário  Luis, Ana Maria, Fabiana Nascimento e profa. Cristina Silva que me  instigou a escrever esse pequeno texto e que certamente compõe estas letras em linhas.
Debate: Profa. Cristina Façanha (FACED), Luiz Fábio Silva Paiva e Cristina Maria da Silva (DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS).
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/cidade-uma-obra-inacabada-1.1433774

Cidade: uma obra inacabada
Grupo Rastros Urbanos apresenta filme "Território do Brincar", hoje, na Casa Amarela Eusélio Oliveira

00:00 · 16.11.2015 por Iracema Sales - Repórter
Crianças quilombolas e indígenas integram o documentário "Território do Brincar"
O espaço urbano não pode ser visto como algo estático. Por estar sempre em construção, é considerado obra coletiva e inacabada, passando por transformações. Essa constitui a linha mestra do trabalho do grupo de estudos e pesquisas "Rastros Urbanos", formado por cerca de 10 alunos do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC).
"O objetivo é despertar nos participantes formas diferentes de perceber a cidade", instiga a professora Cristina Maria da Silva, coordena o grupo, criado em 2009.
O olhar minucioso da pesquisadora aguça a curiosidade dos alunos, possibilitando a abertura de novas brechas no espaço urbano de Fortaleza, descortinando paisagens que antes passavam despercebidas aos olhos do grupo.
Os objetos de pesquisa podem ser captados no simples trajeto de casa para a universidade, entrando em cena outro elemento: a arte.
Dentre os temas pesquisados estão o grafite, repentistas, moradores de rua e as narrativas da escritora Clarice Lispector. Para sensibilizar tanto a comunidade acadêmica quanto o público acerca da filosofia que conduz o trabalho, o "Rastros Urbanos" convida para a exibição do documentário "Território do Brincar - um encontro com a criança brasileira", produção de Renata Meirelles e David Reeks, hoje, às 14h, na Casa Amarela.
Debate
Em seguida, será realizado debate com os professores Cristina Maria da Silva, que fala sobre espaço urbano e literatura; Luiz Fábio Silva Paiva, que aborda a violência entre adolescentes; e Cristina Façanha, coordenadora de projeto voltado ao universo das brincadeiras. Interessados podem se inscrever pelo e-mail para rastrosufc@gmail.Com.
Conforme explica Cristina da Silva, a exibição tem o objetivo de divulgar o projeto "Território do Brincar", cujo documentário é fruto de pesquisa dos diretores, em diferentes cidades brasileiras. Na empreitada, eles buscavam a relação entre brincadeiras e experiências vividas.
Durante dois anos, Renata Meirelles e David Reeks, juntamente com seus filhos, conheceram "in loco" como brincam e vivem as crianças que moram em comunidades indígenas e quilombolas. Desbravaram, ainda, localidades do sertão, passando pelo litoral e também áreas urbanas. O resultado está registrado no filme, realizado entre abril de 2012 e dezembro de 2013.
"Nosso interesse é divulgar o documentário", diz Cristina, compromisso assumido quando assistiu à obra num evento em Campinas. "Somos como embaixadores do projeto", explica, destacando a sensibilidade dos autores, ao explorarem as diferentes formas de brincar da criança brasileira.
A pesquisa possibilita contrapor brincadeiras tradicionais, encontradas nas zonas rurais, e urbanas. "Eles capturam as experiências das crianças através das brincadeiras".
Olhar apurado
"Rastros Urbanos" funciona no Departamento de Ciências Sociais, sendo vinculado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Até o momento, conta apenas com alunos de graduação, que começam a enxergar a cidade como um imenso laboratório.
Os alunos passam a perceber novos objetos, que podem estar em uma esquina, praça, materializado em um morador de rua ou na poesia. "Minha percepção da cidade é pela literatura", atesta a coordenadora. O grupo busca compreender cidades e práticas urbanas a partir de experiências e narrativas de seus habitantes, daí a semelhança com o "Território do Brincar".
Mais informações:
Exibição do documentário: "Território do Brincar". 
Amanhã (17), às 14h, na Casa Amarela Eusélio Oliveira (Av. Da Universidade, 2591, Benfica). 
Contato: (85) 3366.7771