sábado, 30 de dezembro de 2017

FOTOBIOGRAFIA DE FORTALEZA ATRAVÉS DE RASTROS

Amanda Andrade Lima, Cristina Maria da Silva


Resumo


Ler fotografias é buscar nos rastros que elas trazem as potencialidades narrativas que propiciam uma experiência antropológica. Assim, através desses rastros, buscamos vestígios em álbuns fotográficos de famílias que sejam capazes de narrar uma biografia de Fortaleza-CE, baseada nos laços de sociabilidade e interação com a cidade que essas famílias têm. Desta maneira, pretende-se ampliar o conhecimento que se tem da cidade de Fortaleza-CE, ao considerar as narrativas, as experiências, subjetividades e memórias que as fotografias evocam, tornando possível rabiscar uma fisionomia ou mesmo biografia tanto dos bairros quanto da cidade. Nesta experiência nos ancoramos nos estudos de Etienne Samain, Jeanne Marie Gagnebin, Georges Didi-Huberman, Carlo Ginzburg, Ecléa Bosi e Fabiana Bruno para nortear na leitura das fotografias e na experiência antropológica de escrever sobre os rastros e os restos. Na tentativa de construir uma paisagem fotográfica da cidade tivemos uma primeira experiência que se tratou de uma oficina de fotobiografia entre os integrantes dos Grupo de Estudos e Pesquisas Rastros Urbanos. Em seguida, as vivências ocorreram junto a moradores do bairro Poço da Draga, que dividiram suas memórias conosco através de seus álbuns de fotografia, mesclando fotografias, relatos, narrativas e afetos ao percorrer os registros pessoais. Como culminância deste momento tivemos o aniversário de 111 anos do Poço da Draga, em que realizamos uma exposição intitulada “Habitar é deixar rastros”, com as fotografias dos acervos pessoais dos moradores, onde o bairro aparece em diversas temporalidades, sugerindo assim, por meio das fotografias, as marcas que os habitantes deixam na cidade e os rastros da cidade na trajetórias desses habitantes.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Projeto de Extensão - Fotobiografias: A Fortaleza que se encontra em acervos fotográficos pessoais

            Durante o ano de 2017 o Grupo de Estudos e Pesquisas Rastros Urbanos esteve focado, a partir do seu Projeto de Extensão "Fotobiografias: A Fortaleza que se encontra em acervos fotográficos pessoais", em conhecer os álbuns fotográficos de habitantes de Fortaleza - Ceará para, assim, ter acesso a outras narrativas sobre a cidade que não as oficiais.

           Compreendemos, a partir de Fabiana Bruno, que as imagens carregam em si um potencial narrativo e que, portanto, é preciso aprender a ler as imagens. O que as fotografias sussurram, contam, gritam? O que as fotografias pensam, enunciam, narram, e que não está na ordem do escrito? Se quisermos saber precisamos de tempo para ouvi-las e de silêncio para entendê-las...

            Assim, ao longo do ano visitamos moradores da Comunidade Poço da Draga e tivemos acesso às suas fotografias de álbuns pessoais, fizemos visitas guiadas pelo morador e Geógrafo Sérgio Rocha ao longo das ruas do Poço, construímos a Exposição Fotográfica "Habitar é deixar rastros...", que se deu a partir das imagens de acervos pessoais dos moradores e fomos aos Saraus organizados pelas moradoras da comunidade.


           
Visita à uma moradora do Poço da Draga em Maio de 2017 


            Ao ouvir os relatos que as fotografias apresentadas pelos moradores suscitavam pudemos compreender um pouco mais da história de Fortaleza, história essa que não se encontra escrita nos arquivos oficiais, uma vez que é construída e feita no cotidiano dos moradores. Sua vivências, hábitos, afetos e subjetividades em relação à cidade apareciam  à medida que contavam sobre suas vidas, amparados nas memórias que as imagens lançavam. As fotografias faziam enunciar sobre a falta de saneamento básico no Poço da Draga, sobre os problemas que giram em torno da construção do Acquario, sobre as sociabilidades na comunidade e religião. Mas as fotografias também foram responsáveis pelo silêncio que atravessa o instante quando as memórias invadem o pensamento.
           
            Assim, as imagens agiram como impulsionadoras de narrativas e depoimentos dos interlocutores, revelaram experiências, apropriações, trajetos e tensões, tornando possível a construção de uma paisagem fotográfica de Fortaleza.


Amanda Andrade Lima
Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará
Bolsista do Grupo de Estudo e Pesquisa Rastros Urbanos





segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Imagens Pretéritas: A poética na supervivência de fotografias órfãs


Arrumar fotografias em álbuns pessoais é, de certo modo, conceder um ritmo,um tom, um sentido e uma ordem à narrativa de sensações e de experiências.
Como lidar com fotografias à deriva?, descoladas de álbuns familiares, ou seja, perdidas, dispersas e embaralhadas no tempo e no espaço?

A partir dessa indagação, o Grupo de Estudos e Pesquisas Rastros Urbanos e a Professora Fabiana Bruno (UNICAMP) convidam todos/todas para conversar e explorar os valores expressivos das imagens fotográficas.
 
 
 

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Rachel, Racheis: Travessias entre saberes


Qual Rachel de Queiroz (1910-2003) surge diante dos olhares específicos de áreas como as ciências sociais, geografia e estudos literários? Esta é a pergunta colocada pela mesa–redonda Rachel, Racheis: Travessias entre saberes, proposta pelo Grupo de Estudos e Pesquisas Rastros Urbanos, com o objetivo de discutir a vida e a obra da escritora cearense. 




O momento nos parece mais que oportuno.

Em 2017, faz 40 anos que a Academia Brasileira de Letras (ABL) abriu as portas para a primeira escritora, no caso, Queiroz, tornando-a a primeira mulher a ocupar um lugar numa das principais instituições de consagração literária do país. Uma conquista muito significativa para as mulheres de letras brasileiras, principalmente, para aquelas que almejavam fazer da pena um ofício.  

Queiroz nasceu em 17 de novembro de 1910 e faleceu em 04 de novembro de 2003.  Portanto, o dia 07 de novembro, no qual se realizará o evento, localiza-se, justamente, neste entremeio – entre o nascimento e a morte –, o qual, como lembra-nos Kofes (2004): “é no intervalo entre a vida e a morte, que uma experiência de vida se encarna no mundo e, consequentemente, adquire condições de ser representada por meio de uma narrativa”. 


Referências:
FANINI, Michele Asmar. Fardos e Fardões: mulheres na Academia Brasileira de Letras (1897-2003). Tese (Doutorado em Sociologia). Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
KOFES, Suely. “Os papéis de aspern”: anotações para um debate. In: História de vida: biografias e trajetórias/Suely Kofes (org.) – Campinas, SP: UNICAMP, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2004, (Cadernos do IFCH;31), págs. 5 – 16.



Texto: Bruno Duarte Nascimento


sábado, 20 de maio de 2017

#Resistência - Filme de Eliza Capai






Assistimos ao filme #Resistência no Departamento de Ciências Sociais da UFCE, na segunda-feira, dia 15 de Maio de 2017. Tivemos a presença de alunos do curso, tanto da licenciatura quanto do bacharelado, colegas professores e como debatedores eu, Professora Cristina Maria, e o Professor Romain Bragard. Foram muitas as questões que nos cercaram diante do filme e do debate. Contudo, dois pontos, são os mais fortes para serem mencionados. 

1) O lugar e o Ser Mulher no Brasil.
2) O lugar da Mídia no processo político atual. Falam nos de SER e de COMO PODEMOS DIZER O QUE SOMOS. 

É muito forte pensarmos em qual é o lugar da mulher nesse momento no Brasil, depois da retirada, através de um golpe, da Presidente Dilma Rousseff. Dilma é a primeira mulher a assumir a presidência da República no Brasil, e pela primeira vez vemos preocupações com corte de cabelo, vestido, se a presidente é gorda ou não. Ela foi profundamente desrespeitada, tendo sua imagem atrelada a adesivos, piadas e comentários misóginos. (Para lembrar a etimologia da palavra misoginia: Misió, quer dizer ódio. Gyné, Mulher.) Por que tanto ódio à imagem de uma mulher? Esse ódio se dirige somente à ela, Dilma Rousseff, ou fala de cada uma de nós e dos lugares que ocupamos nessa sociedade?
É de um lugar de gênero que estamos falando e, sobretudo, de uma relação de gênero com o poder? Qual o lugar da mulher na política brasileira?

 Como a mulher é vista e respeitada nos lugares cotidianamente? Como é olhada? Como as mulheres são mencionadas quando ocupam cargos de liderança e poder? Refletimos então sobre esse lugares na Universidade, as mulheres nas chefias de Departamento e como em nosso próprio curso, professores e colegas, muitas vezes, silenciam. Desrespeitam ou subestimam os lugares de fala e de gestos das mulheres.  Ainda somos uma sociedade onde jovens, por brincadeira, queimam um índio na rua, e ao se explicarem dizem que estavam apenas brincando e pensavam se tratar de um morador de rua. Mulheres cotidianamente tem medo de serem estupradas, como lembra Eliza Capai, no filme. Negros todos os dias sofrem racismo e ódio pelo que são. Estranhos, estrangeiros sendo inquiridos por olhares que indagam, muitas vezes, silenciosamente, mas não menos agressivos, sobre o que vestem, como se comportam, o que dizem e o que fazem. Qual o lugar da diferença nesse país? Por que temos tanto ódio do que somos? De sermos pobres, negros, índios, mulheres? É de diferença que precisamos falar e do direito ao nosso próprio corpo, esse lugar que somos. São corpos incômodos, corpos que não se quer ver na esfera pública? Por que nos incomoda e nos causa tanto ódio a diferença, se somos mestiços? Essa mistura ou mélange é o que nos incomoda?

É muito expressiva a participação feminina nas ocupações das instituições públicas no Brasil e nas manifestações. Esse filme aponta para essas frentes que demonstram lugares de resistência diante da dominação masculina que ainda se faz presente entre nós!

O professor Romain, francês e há alguns anos professor de nosso Departamento de Ciências Sociais na área de Antropologia nos disse:"Eu chorei nesse filme, e na saída da Dilma". E continuou: "Em oito anos aqui eu ainda me surpreendo!". "Esse golpe é machista!", nos lembra de maneira direta e pontual o professor.

No dia da aprovação do Impeachment eu lembro que meus alunos de Introdução à Sociologia, no Curso de Ciências Contábeis, choraram em sala de aula, preocupados com o que iria acontecer com o país, com eles, com a Universidade. 

Mas para além da visibilidade e dos trajetos das mulheres na esfera pública é importante notar que o filme nos fala do papel da mídia nesse momento, sobretudo, da mídia independente e da ideia de que " Eu sou minha própria mídia". Qualquer um com uma telefone em mãos, com recursos de fotografia e vídeo e acesso à internet pode construir sua narrativa sobre os fatos, seja sobre a situação política atual, bem como da micropolítica cotidiana na qual estamos todos inseridos. A mídia não é mais a mesma, as formas de ser a realidade não são mais as mesmas. Na ocupação da ALESP é muito claro os lugares da mídia tradicional, que só podem filmar de cima, e das mídias independentes que podem descer, ficar com os ocupantes, estudantes secundaristas. Lembro-me das palavras do historiador Michel de Certeau na Invenção do Cotidiano, e em como podemos olhar para a cidade e para o que nela acontece, de cima e de longe, ou de perto, acompanhando os rastros da pessoas, sentido seus hálitos, o calor da suas presenças, os ruídos de suas inúmeras vozes.

Somos gratos pelo belo trabalho de Eliza Capai, que desde As Severinas, No Devagar Depressa dos Tempos e agora com #Resistência, nos acena para as lutas que se travam em nossa sociedade pelo direito de descobrirmos quem somos. Obrigada por nos fazer pensar no momento político atual e como temos força para transformar a sociedade que vivemos. Inspiremo-nos nos estudantes secundaristas e  no que eles nos ensinam!!!

Esperamos que a República não seja apenas a estação do metro por onde se entra e sai na cidade de São Paulo, como vemos em uma das cenas do filme. Não podemos esquecer, como bem lembrou o professor Romain, a liberdade é uma mulher, se lembrarmos do quadro de Delacroix!

- Professora Cristina Maria da Silva.
Departamento de Ciências Sociais -UFCE
Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas Rastros Urbanos.











quinta-feira, 11 de maio de 2017

Pré-lançamento do filme #Resistência

Após um ano do afastamento de Dilma Rousseff o filme #Resistência será pré-lançado mo Brasil, Europa e Estados Unidos, com 62 sessões confirmadas.




O Grupo de Estudos e Pesquisas Rastros Urbanos convida à todxs para a sessão de pré-lançamento do filme #Resistência no dia 15/05/2017, às 18h30min no Auditório do Departamento de Ciências Sociais da UFC. Na ocasião estão presentes xs professores Profa. Dra. Cristina Maria, Profa. Dra. Danyelle Nilin e o Prof. Dr. Romain Bragard como debatedorxs.


O filme #Resistência, dirigido e narrado por Eliza Capai, acompanhou de dentro as ocupações e manifestações que eclodiam nas cidades brasileiras durante os meses em que o spectrum do Impeachment rondava o país, enquanto Michel Temer estava como presidente interino. Para as filmagens, Eliza Capai frequentou as ocupações da Alesp, Minc-RJ, Funarte-SP, a Marcha das Vadias RJ e a Parada LGBTT de São Paulo, entre os meses de abril e agosto de 2016.


O documentário retrata questões de  feminismo, racismo, homossexualidade, transexualidade, educação, cultura e mídia.


A chamada para o filme enfatiza que o pré-lançamento não acontecerá nos cinemas ou na televisão, mas nas escolas, faculdades, rua, bairro, auditório, assim como foram as ocupações, a partir da plataforma "Videocamp".




Acompanhe o evento do Pré-lançamento no Facebook
Para informações sobre como agendar sua sessão clique aqui


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Amanda Andrade Lima
Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará
Bolsista do Grupo de Estudo e Pesquisa Rastros Urbanos

terça-feira, 11 de abril de 2017

Equipe Rastros Urbanos



   Apresentamos à vocês a Equipe do Rastros Urbanos:


   Alana Brandão Moura
    Graduanda de Ciências Sociais na Universidade Federal do Ceará (UFCE), curiosa por fotografia, interessada pela história das mulheres, feminista e empoderada.


  Amanda Lima
Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (UFCE). Gosto de ouvir e ler histórias. Me interesso por fotografias, cidade, juventude e me arrisco em ilustrações.


  Ananda Andrade
    Bacharela em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestra em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Doutoranda em Antropologia Social pela Universidade de Campinas (Unicamp), pesquisa a cidade, suas narrativas, rastros e afetos. Seus interesses de pesquisa envolvem artes, saúde mental, literatura e futebol.


  Anderson Lemos
  Graduado em Publicidade e Propaganda e Pós Graduação com MBA em Marketing e Propaganda. No seguimento de comunicação desde 2009, design freelancer com foco em  criações publicitárias e diagramação. Gamer, gamer, gamer...



  Bruno Duarte Nascimento   
    Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (UFCE). Tenho me interessado pelos seguintes temas: Literatura, Gênero, Raça, Cidades e, mais recente, Educação. 


   Clarice Alves
Futura geógrafa bacharel da UFC, feminista, apaixonada por fotografia e com um amor gigantesco pela área de Climatologia Geográfica, de vez em quando faço muitos mapas também. Meu hobby é fotografar objetos feios com efeitos bonitos e sair para vários rolês com direito a comida e sucos naturais.



Cristina Maria da Silva    
   Formada nas fronteiras das Ciências Sociais e da Literatura. Apaixonada pela vida, pelas letras, fotografia e pelo ensino. Andarilha nas Cidades e pelas experiências urbanas. Atualmente Professora de Ciências Sociais na Universidade Federal do Ceará (UFCE) e Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas Rastros Urbanos CNPq. 


Felipe Braga
   Estudante de Ciências Sociais (UFC), futuro professor de Sociologia e um amante das humanidades. Me interesso pela área da história, literatura e o campo das artes.  


  Josiara Gurgel Tavares
   Graduada em Ciências Sociais e Especialização em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Mestra em Humanidades na Universidade Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira - UNILAB - Redenção/CE. Professora da Educação Básica, vinculada à Secretaria da Educação Básica do Ceará. Tem experiência na área de Humanidades, com ênfase em Sociologia.


 Tiago Vieira Cavalcante
  Formado em Turismo e Especialista em Ecoturismo. Por amor à natureza descambei para a Geografia, de onde tirei fôlego para me divertir com um mestrado e acabar de endoidecer no doutorado. Sou professor há mais de 10 anos, ensinando de pouco um tudo em tudo quanto é lugar. Na Geografia, meu interesse é pela religião, o ensino, o turismo, a literatura, temas com os quais tenho lidado, por isso mesmo estou um geógrafo humanista cultural.






terça-feira, 28 de março de 2017


A Arte Urbana Entre O Real E O Virtual: A Afetividade



Dia 27 de Março é o Dia Mundial do Grafitti.

Não por acaso, a data que faz uma homenagem ao precursor da arte de rua no Brasil, Alex Vallauri, foi escolhida para o lançamento do aplicativo “Arte Urbana Fortaleza”, que aconteceu no Cine São Luiz.

O evento contou com um live paiting (pintura ao vivo) com artistas convidados ao som do Cafuné Sound System (Dj Guga de Castro e Dj Denilson Albano), além de um vídeo-apresentação do aplicativo e o documentário “Festival Concreto”, com direção de Germano Sousa,  sobre os 3 anos de edição do Festival Internacional de Arte Urbana. Na ocasião estavam presentes o artista Narcélio Grud, a secretária da Cultura Suzete Nunes e outros artistas (Douga, Qroz, Syba, Érika Miranda e Solrac) que fazem a cena do grafitti em Fortaleza.


O Aplicativo “Arte Urbana Fortaleza”

O “Arte Urbana Fortaleza” é um aplicativo de “caráter intuitivo” e tem a proposta de “mapear” as obras espalhadas pela cidade além de também tornar possível a “doação”de muros para que artistas possam deixar seu trabalho. Através do aplicativo podemos fotografar as obras (contribuindo para a criação de uma espécie de catálogo das artes urbanas de Fortaleza), ver a lista de artistas, e ainda disponibilizar muros para que artistas interessados deixem suas marcas. Assim, o aplicativo funciona como um verdadeiro convite a um “tour” para conhecer as obras de arte urbana em Fortaleza, tornando as ruas da cidade uma galeria à céu aberto.

O app é uma realização do artista Narcélio Grud em parceria com a Prefeitura de Fortaleza, da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult-CE) e do Governo do Estado do Ceará.

A Arte Urbana Entre O “Real” E O “Virtual” É Uma Questão De Afeto

O “Arte Urbana Fortaleza” faz lembrar, com as devidas ressalvas, o jogo eletrônico de realidade aumentada “Pokémon GO”. Me explico: desde o lançamento de Pokémon GO já se iniciou uma discussão sobre a possibilidade que estas formas de dispositivo tem, em seu bojo, de estreitar a relação entre os usuários destas mídias e a cidade. O grande trunfo deste jogo, de um ponto de vista sociológico, é a necessidade de sair de casa e caminhar pela cidade para que seja possível jogar.

Desde Pokémon GO já se vê uma grande abertura para a arte urbana através da cultura digital (mais especificamente em aplicativos para smarthphones), uma vez que alguns “pokestops”(pontos no mapa em que os jogadores devem ir para encontrar itens necessários para continuar jogando) estão localizados em grandes obras urbanas, como muros grafitados. Assim, como que em um “efeito colateral”, tem-se que ao sair de casa “para jogar”, os usuários do aplicativo Pokémon Go encontram-se com a arte urbana de sua respectiva cidade.

Encontrar-se com a arte nas ruas também é o objetivo do app “Arte Urbana Fortaleza”, que serve como um guia para conhecer as obras expostas nas galerias-rua, esta “paisagem em constante deslocamento” (DIÓGENES, Glória, 2015), de tal forma que o aplicativo brinca com as categorias e posições do mundo das Belas-Artes, ao colocar o usuário do aplicativo como o “curador” da obra. Sobre cidades e mídias digitais, o antropólogo Mássimo Canevacci (2016) reflete:

Culturas digitais e metrópoles emergentes oferecem não só um suporte técnico, quanto o cenário comunicacional descentrável que determina fraturas sensoriais/racionais em relação ao analógico.

(...)

Neste corpo-performático, os direitos de “cidadania transitiva” se afirmam movimentando instituições públicas progressivas e iniciativas privadas, sensíveis pelas culturas conectivas, artes difundidas, arquiteturas inovadoras. Os panoramas metropolitanos viram tramas narrativas determinadas pelas montagens de experiências fragmentadas, caracterizadas pela espontaneidade performática de indivíduos, grupos, multidão temporária.

Outra discussão que a ideia por trás do aplicativo pode trazer à sociologia diz respeito à afetividade que é possível de tecer entre usuário do aplicativo, o artista urbano e a cidade, uma vez que o “afeto” é muito citado por aqueles que fazem e vivem o circuito da arte urbana. Caminhar pela cidade e percebê-la mais colorida, ser tomado de pensamentos e imaginação que eclodiram a partir de murais e grafittis espalhados na cidade, sentimentos e sensações – sejam de qual ordem for, “positivas” ou “negativas” - que foram ativados por uma outra forma de cidade (uma cidade de cores, de muros enfeitados) assim como o acesso à memórias – pessoais e/ou coletivas – por meio da intervenção urbana, são possíveis reações de quem se encontra com o grafitti nas ruas, bem como uma outra gama de sensações que perpassam o corpo do artista ao fazer sua arte nos muros urbanos.
Sobre a relação entre o mundo digital e a arte urbana, Canevacci nos mostra:

Simetricamente a comunicação digital expande um sujeito glocal que exprime autonomias criativas e horizontais desejos de expressividade: uma composição “política” de auto-representação, metrópole comunicacional e culturas digitais. (...) Tais cenários são compreensíveis nas conexões polifônicas, sincréticas, dissonantes entre cultura digital e metrópole comunicacional, que informam códigos, estilos, lógicas, identidades e até políticas bem além da simples tecnologia ou arquitetura. O sujeito que atravessa identidades temporárias, flutuantes, híbridas, incorpora o conceito de “multivíduo” ou sujeito diaspórico.

Arriscaria a dizer, assim, que a iniciativa “Arte Urbana Fortaleza” se apresenta como possível gerador de todo um arranjo de sentimentos que é capaz de desenvolver afeto – uma palavra tão simples e tão forte – entre o triângulo (amoroso?) Artista-Cidade-Citadino.




Links

Site do aplicativo "Arte Urbana Fortaleza"
FanPage do Festival Concreto
Vídeo do Lançamento do Aplicativo "Arte Urbana Fortaleza" por Rastros Urbanos


Referências

Canevacci, Massimo. « Metrópole comunicacional: arte pública, auto representação, sujeito transurbano », Revista de Ciências Sociais. vol. 47 (1)| 2016, consultado em 27 Março 2017. URL: http://www.periodicos.ufc.br/index.php/revcienso/article/view/5683/4078 ; ISSN: 2318-4620

Diógenes, Glória. « A arte urbana entre ambientes: “dobras” entre a cidade “material” e o ciberespaço », Etnográfica [Online], vol. 19 (3) | 2015, Online desde 27 Outubro 2015, consultado em 27 Março 2017. URL : http://etnografica.revues.org/4105 ; DOI : 10.4000/etnografica.4105


Amanda Andrade Lima
Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará
Bolsista do Grupo de Estudo e Pesquisa Rastros Urbanos