sábado, 20 de maio de 2017

#Resistência - Filme de Eliza Capai






Assistimos ao filme #Resistência no Departamento de Ciências Sociais da UFCE, na segunda-feira, dia 15 de Maio de 2017. Tivemos a presença de alunos do curso, tanto da licenciatura quanto do bacharelado, colegas professores e como debatedores eu, Professora Cristina Maria, e o Professor Romain Bragard. Foram muitas as questões que nos cercaram diante do filme e do debate. Contudo, dois pontos, são os mais fortes para serem mencionados. 

1) O lugar e o Ser Mulher no Brasil.
2) O lugar da Mídia no processo político atual. Falam nos de SER e de COMO PODEMOS DIZER O QUE SOMOS. 

É muito forte pensarmos em qual é o lugar da mulher nesse momento no Brasil, depois da retirada, através de um golpe, da Presidente Dilma Rousseff. Dilma é a primeira mulher a assumir a presidência da República no Brasil, e pela primeira vez vemos preocupações com corte de cabelo, vestido, se a presidente é gorda ou não. Ela foi profundamente desrespeitada, tendo sua imagem atrelada a adesivos, piadas e comentários misóginos. (Para lembrar a etimologia da palavra misoginia: Misió, quer dizer ódio. Gyné, Mulher.) Por que tanto ódio à imagem de uma mulher? Esse ódio se dirige somente à ela, Dilma Rousseff, ou fala de cada uma de nós e dos lugares que ocupamos nessa sociedade?
É de um lugar de gênero que estamos falando e, sobretudo, de uma relação de gênero com o poder? Qual o lugar da mulher na política brasileira?

 Como a mulher é vista e respeitada nos lugares cotidianamente? Como é olhada? Como as mulheres são mencionadas quando ocupam cargos de liderança e poder? Refletimos então sobre esse lugares na Universidade, as mulheres nas chefias de Departamento e como em nosso próprio curso, professores e colegas, muitas vezes, silenciam. Desrespeitam ou subestimam os lugares de fala e de gestos das mulheres.  Ainda somos uma sociedade onde jovens, por brincadeira, queimam um índio na rua, e ao se explicarem dizem que estavam apenas brincando e pensavam se tratar de um morador de rua. Mulheres cotidianamente tem medo de serem estupradas, como lembra Eliza Capai, no filme. Negros todos os dias sofrem racismo e ódio pelo que são. Estranhos, estrangeiros sendo inquiridos por olhares que indagam, muitas vezes, silenciosamente, mas não menos agressivos, sobre o que vestem, como se comportam, o que dizem e o que fazem. Qual o lugar da diferença nesse país? Por que temos tanto ódio do que somos? De sermos pobres, negros, índios, mulheres? É de diferença que precisamos falar e do direito ao nosso próprio corpo, esse lugar que somos. São corpos incômodos, corpos que não se quer ver na esfera pública? Por que nos incomoda e nos causa tanto ódio a diferença, se somos mestiços? Essa mistura ou mélange é o que nos incomoda?

É muito expressiva a participação feminina nas ocupações das instituições públicas no Brasil e nas manifestações. Esse filme aponta para essas frentes que demonstram lugares de resistência diante da dominação masculina que ainda se faz presente entre nós!

O professor Romain, francês e há alguns anos professor de nosso Departamento de Ciências Sociais na área de Antropologia nos disse:"Eu chorei nesse filme, e na saída da Dilma". E continuou: "Em oito anos aqui eu ainda me surpreendo!". "Esse golpe é machista!", nos lembra de maneira direta e pontual o professor.

No dia da aprovação do Impeachment eu lembro que meus alunos de Introdução à Sociologia, no Curso de Ciências Contábeis, choraram em sala de aula, preocupados com o que iria acontecer com o país, com eles, com a Universidade. 

Mas para além da visibilidade e dos trajetos das mulheres na esfera pública é importante notar que o filme nos fala do papel da mídia nesse momento, sobretudo, da mídia independente e da ideia de que " Eu sou minha própria mídia". Qualquer um com uma telefone em mãos, com recursos de fotografia e vídeo e acesso à internet pode construir sua narrativa sobre os fatos, seja sobre a situação política atual, bem como da micropolítica cotidiana na qual estamos todos inseridos. A mídia não é mais a mesma, as formas de ser a realidade não são mais as mesmas. Na ocupação da ALESP é muito claro os lugares da mídia tradicional, que só podem filmar de cima, e das mídias independentes que podem descer, ficar com os ocupantes, estudantes secundaristas. Lembro-me das palavras do historiador Michel de Certeau na Invenção do Cotidiano, e em como podemos olhar para a cidade e para o que nela acontece, de cima e de longe, ou de perto, acompanhando os rastros da pessoas, sentido seus hálitos, o calor da suas presenças, os ruídos de suas inúmeras vozes.

Somos gratos pelo belo trabalho de Eliza Capai, que desde As Severinas, No Devagar Depressa dos Tempos e agora com #Resistência, nos acena para as lutas que se travam em nossa sociedade pelo direito de descobrirmos quem somos. Obrigada por nos fazer pensar no momento político atual e como temos força para transformar a sociedade que vivemos. Inspiremo-nos nos estudantes secundaristas e  no que eles nos ensinam!!!

Esperamos que a República não seja apenas a estação do metro por onde se entra e sai na cidade de São Paulo, como vemos em uma das cenas do filme. Não podemos esquecer, como bem lembrou o professor Romain, a liberdade é uma mulher, se lembrarmos do quadro de Delacroix!

- Professora Cristina Maria da Silva.
Departamento de Ciências Sociais -UFCE
Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas Rastros Urbanos.











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