quinta-feira, 31 de março de 2011







 Samara de Souza Lopes

Quando Michel de Certeau coloca-se no topo do Word Trade Center automaticamente me veio o pensamento de quem ao invés do topo está embaixo, aos pés do monumento rodeado por outros grandes e imponentes edifícios como se fosse ser engolido por eles. Quando você está em um arranha céu você se sente poderoso, sua mente se abre para infinitas possibilidades como se o mundo estivesse literalmente abaixo de seus pés. Mas quando você está em baixo e olha para o alto a primeira sensação é de desequilíbrio, tontura e confusão. Não sentimos o chão firme e é como se você não pertencesse aquele mundo, mas fosse dominado por ele.
 Fechamos os olhos e tentamos encontrar nosso lugar em meio a essa onda de cinza, preto e branco que tingi as grandes cidades. Respiramos profundamente e olhamos o horizonte, mas ao fazer isso vemos uma multidão de viajantes e nos vemos sendo novamente engolidos por uma onda de transeuntes, vidas e pensamentos que se chocam por segundos em um mesmo instante sem perceberem que são peças de um enorme quebra-cabeça urbano.
Enquanto caminhamos por becos e vielas nós entramos e saímos de pequenas cidades dentro desse complexo maior que é a metrópole. Encontramos entre essas vielas cidades interioranas onde o ar não é visto, mas sentido. Desbravamos pequenas florestas que mais parecem Oasis em meio à fumaça, buzina e a opacidade das cores. Encontramos em cada pessoa um pedaço do mundo, um pedaço de diferentes culturas que vão criando a colcha de retalhos que nos molda.
Podemos nos sentir livres para ir e vir, descobrir e redescobrir cenários e pessoas em meio aos cumes e montanhas de pedra, areia e cimento que nos rodeia. Contudo podemos nos sentir aprisionados, criminosos condenados por sermos curiosos e termos transgredido os limites do concreto imposto a nós por nós. Enclausurados em cubículos milimetricamente projetados, sem janelas e rodeados por paredes brancas que delimitam nossa liberdade. O contato com o outro restrito a voz que sai de máquinas frias e sem vida. Ficamos em um lugar de objetividade onde nossa subjetividade é restrita e controlada sem ao menos percebermos.
Em meio a cercados de ferro, aço e tijolo tentamos expandir nossas mentes, expandir nosso espaço de interação conosco e com o outro. Procuramos o singular no plural, o diferente no cotidiano, o ousado no comum. Sofremos constantes diásporas. Procuras pelo Eu na floresta de concreto em que vivemos. As noites outrora iluminadas pela luz das estrelas agora iluminada por luzes de neon com diferentes cores que nos guiam em nossa caminha pelo lago negro das estradas.
Como diz Certeau estamos presos na contradição entre delimitação e mobilidade. Os limites quebrados por nossas caminhadas e pela lembrança de onde passamos e de quem conhecemos apesar de toda a delimitação que nos é imposta. Em cada prédio o simbolismo do que queremos ser combinado com o espaço que queremos dominar.
Construindo passarelas para realizarmos a mediação entre nós e a floresta de pedra, nós e os andarilhos, entre nós e as fronteiras. Como diz Stuart Hall estamos em place de passage presos em uma oposição entre o dentro e o fora. Somos seres híbridos vivendo em um lugar repleto de ambiguidades cujas trajetórias se cruzam.

Samara é graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará - UFC e integra o Grupo de estudos: Cidades, experiências, trajetórias e narrativas, vinculado ao Depto. de Ciências Sociais da UFC.


domingo, 20 de março de 2011


Para pensar as cidades na contemporaneidade é preciso percebê-las para além de sua estrutura urbanística ou a crise de seus projetos civilizatórios, e observá-las em suas geografias cotidianas, acompanhar as narrativas que a fazem silenciosamente nas diferentes formas de experimentá-la.
Rastros Urbanos é um grupo de estudos voltando para pensar as práticas urbanas, não apenas voltando-se para o planejamento das cidades ou de suas crises, mas o que faz com que a cidade seja uma invenção constante: as trajetórias, as experiências daqueles que dela fazem parte. Nosso grupo vincula-se a linha de pesquisa: Experiências na cidade: Trajetórias, Encontros, Narrativas, e é desenvolvida na Universidade Estadual de Campinas e na Universidade Federal do Ceará. A mesma faz parte do Diretório do CNPq: Trajetória, narrativa, experiência e suas formas de expressão. Propomos assim, partindo da perspectiva dos que habitam a cidade e de combinações conceituais (experiência, trajetórias, encontros, narrativas) desenvolver pesquisas que explorem metodologias e teorias sobre o urbano e a cidade.

http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhepesq.jsp?pesq=0296938001965033

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