domingo, 7 de abril de 2013


II Mostra Cinematográfica Alteridades e Práticas Urbanas
Sessão: Narrativas, Desejos e Moralidades.

 Os Contos Proibidos do Marquês de Sade
 (Alemanha, EUA e Inglaterra, 2000, Dir. Philip Kaufman)


                                           -  Os Contos Malditos do Marquês de Sade  -

“Caro leitor: Eu lhe entrego um conto escrito pelo Abade de Culmier, um homem que encontrou a liberdade nos lugares mais improváveis, no fundo de um tinteiro, na ponta de uma pena. Contudo, esteja prevenido, sua trama é molhada com sangue, seus personagens, depravados, e seus temas, imorais na melhor hipótese. Mas para conhecer a virtude temos de nos familiarizar com o vício. Só assim podemos conhecer a extensão completa de um homem. Então venha, eu o desafio” (Os Contos Proibidos do Marquês de Sade)
Os Contos Proibidos do Marquês de Sade foi indicado ao Oscar no ano 2001 na categoria Melhor Ator pela atuação de Geoffrey Rush com o personagem Marquês de Sade, foi indicado também para Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino.
Madeleine LeCleirc (Kate Winslet – Titanic, 1997) é uma jovem lavadeira de um hospício que se apaixona pelos personagens nascidos nos contos escritos por um dos internos/aprisionados, e que a mesma toma para si como fuga de uma rotina estressante.
“Nascido em 02 de junho de 1740 em Paris, na França, o Marquês de Sade desenvolveu desde cedo seus dotes para uma escrita voltada para o lado controverso do ser humano” (www.recantodasletras.com.br).
Simone (Amelia Warner – Aeon Flux, 2005) é uma adolescente prometida a casar-se com um homem com idade suficiente para ser seu pai, mas através da literatura do Marquês de Sade descobre os prazeres carnais e a vida.
“Abraçado” de sexualidade e erotismo sobre os preceitos do âmbito religioso, mais precisamente da religião cristã, o filme conta a história dos últimos momentos do aprisionado Marquês de Sade em um asilo no período da Revolução Francesa.
Beijos e páginas, beijos por páginas.
A música é de Stefhen Warbeck, a edição é de Peter Boyle, a fotografia é de Rogier Stoffers e a direção é de Philip Kaufman.
Abbe du Coulmier (Joaquin Phoenix -  Gladiador, 2000) é um abade que sai da vida religiosa para um mergulho na insanidade e na literatura.
Os crimes do amor é a peça – teatral – de um quebra-cabeça de símbolos, estratégias e esperanças, o asilo Charenton pode ser fechado pelo Ministério.
Então, o fogo que arde, incendeia corpos, e queima promovendo vida, mas também gera mortes, uma virgem é assassinada. A vida imita a arte ou a arte imita a vida?
Aos 108 minutos os contos são calados bruscamente por um esposo traído ou por ordens de um representante eclesiástico.
O Marquês de Sade tem dificuldades em domar seus desejos e extravasa no formato de literatura promíscua e pornográfica, estas com o intuito de realizar um saneamento de seus conflitos internos. Após ser proibido de escrever, Sade escreve sobre lençóis, roupas e paredes, e para isso, utiliza ossos de galinhas, sangue e até as próprias fezes.
A salvação de sua vida era externar seus desejos – pecaminosos ou não – e sua morte foi obtida com a ingestão da “cruz da salvação”.

*Mário Silva
Rastros Urbanos


*Texto escrito por ocasião da II Mostra Cinematográfica Alteridades e Práticas Urbanas, durante as sessões organizadas pelo Rastros Urbanos. O evento fez parte da programação de abertura do semestre letivo 2013.1 do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará - UFC.






II Mostra Cinematográfica Alteridades e Práticas Urbanas
Sessão: Narrativas, Desejos e Moralidades.

 Os Contos Proibidos do Marquês de Sade
 (Alemanha, EUA e Inglaterra, 2000, Dir. Philip Kaufman)



A película narra os últimos dias da vida do Marquês de Sade, famoso por seus escritos eróticos, em um hospício. A literatura do Marquês tem grande impacto sobre a sociedade da época, suscita a fúria de uns e a descoberta de um mundo para outros. Mas afinal, sobre o que o Marquês de Sade escreve?
Segundo ele próprio: eu escrevo sobre as grandes verdades que unem toda a humanidade, todo mundo. Em outro momento ele diz: eu não invento a realidade, eu a apenas conto. A produção literária do Marquês de Sade pode ser lida como sendo ao mesmo tempo expressão e subversão de uma época, marcada pelo controle repressivo do corpo e da sexualidade, realizada, sobretudo, através da instituição religiosa. Os textos do Marquês de Sade nos dão noção de como essas construções socioculturais se inscrevem em sua época, mas também de como a literatura aparece como um acontecimento, causa reações sobre o mundo, pelo cenário que se constitui, num “como se’ da realidade, nas palavras de Silva (2009).
Segundo o Dr. Royer – Collard (Michael Caine) Os livros do Marquês são um insulto às pessoas decentes do mundo. A Igreja católica manda silenciar o escritor uma vez que seus contos trazem consigo personagens do próprio clero como protagonistas. Por exemplo, um bispo que assedia uma moça, história narrada logo no início do filme.  Embora todo o pudor à “prosa incendiária” do Marquês, seus livros, de acordo com Madeleine (Kate Winslet) “vendem como água”. As pessoas consomem avidamente sua prosa. Em uma das cenas podemos ver um rapaz lendo trechos do livro Justine em voz alta no meio da rua. Outra prova disso é quando Madeleine (Kate Winslet) está contando a história de Justine para os amigos à noite, uma das empregadas do Hospital psiquiátrico os censuram por eles estarem lendo “aquelas obscenidades”. Imediatamente, Madeleine dispara: ninguém está te obrigando a ouvir. E a empregada permanece ouvindo a história, atentamente...
A jovem Simone (Amélia Warner) vivia em um convento sob os cuidados das freiras. Órfã, sem recursos, desde cedo soube que estava prometida para se casar com um homem mais velho. O que seria uma fuga de um destino de miséria para ela tornou uma prisão que, apesar de possuir sedas e candelabros, continua sendo uma prisão. Casada com o Dr. Royer – Collard, a jovem cultiva o hábito da leitura. Curiosamente, lê Justine, obra do Marquês de Sade, chegando até o ponto de memorizá-la inteira. Dessa forma, Simone (Amélia Warner) é atingida pelo texto de tal forma, que desperta o desejo da fuga de um casamento arranjado e a descoberta do corpo, da sexualidade investida nos braços de seu amante, o arquiteto responsável pela reforma de sua casa.

    *Bruno Duarte
  Rastros Urbanos
                                         

REFERÊNCIAS

SILVA, Cristina Maria da. Rastros das socialidades: Conversações com João Gilberto Noll e Luiz Ruffato. (Doutorado em Ciências Sociais) Programa de Pós – Graduação em Ciências Sociais. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.
*Texto escrito por ocasião da II Mostra Cinematográfica Alteridades e Práticas Urbanas, durante as sessões organizadas pelo Grupo Rastros Urbanos. O evento fez parte da programação da abertura do semestre letivo 2013.1 do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará - UFC.

II Mostra Cinematográfica Alteridades e Práticas Urbanas
Sessão: Discursos e Práticas Urbanas.


A Invenção da Mentira
(EUA, 2009, Dir. Ricky Gervais/ Matthew Robinson)


                    
A ficção é uma necessidade cotidiana. Cada um para existir, conta uma história.                                                                                                                                         Michel Maffesoli[1].

Pensar em um breve comentário acerca das minhas impressões sobre o filme A Invenção da mentira (2009) é antes de tudo pensar no momento o qual estamos vivendo: uma semana de abertura de um semestre letivo, período de continuidade para os estudantes que já trilham a formação em cientista social e ingresso dos novos alunos, agora colegas de curso. Acredito que em nosso ofício, o de cientistas sociais, o que intentamos é a compreensão da vida social em sua complexidade. Nessa perspectiva, falar um pouco sobre o que a narrativa fílmica me instiga a pensar, destaco o que diz respeito ao que me aparece como ficções da vida social. Aqui, penso o termo ficção não como uma noção de mentira, palavra que o próprio título do filme trás, nem como o falso, mas resgato o seu significado etimológico: ficção, do latim fictione, declinação de fictio, de fingire, que pode significar fingir ou ainda inventar, termo que julgo mais adequado. Dessa forma, como nos sugere Souza Filho (2010) o mundo a nossa volta é uma construção social, humana, histórica e cultural. Tal assertiva pode- nos parecer banal a princípio, no entanto, a forma como a realidade aparece para nós nem sempre é como um constructo. Ainda nas palavras de Souza Filho (2010) em geral, pela forma mesma pela qual, nós, representamos a realidade (...) ela parece para nós como um dado, como algo que existe por si, como alguma coisa que existiria como extensões de leis da natureza ou por desígnios divinos, e não como algo que resulta da atividade humana, que resulta das próprias ações humanas. Nessa perspectiva, ocorre o descarte dos discursos que buscam naturalizar diversos aspectos vida social os tornando imutáveis, estáticos e intransponíveis. Abre-se, portanto, o “mundo das possibilidades”, como nos aponta a narrativa do personagem Mark Bellison (Richy Gervais) quando diz: “descobri que posso ter a vida do jeito que quero”. Ainda sobre as formas de perceber o mundo, nos aponta Silva (2009) a criação da cultura e da sociedade revelam que o ser humano é a única espécie que necessita criar o seu espaço de atuação e nesse processo torna possível sua própria existência. Consoante a isso, Maffesoli (1996) também nos diz: Aliás, nunca é demasiado enfatizar de que cada sociedade, ou, mais exatamente cada conjunto civilizacional tem necessidade de contar uma história que lhe permite ser o que é. Na narrativa fílmica, percebemos que há uma crítica às instituições religiosas. Embora bem humorada, mas com sarcasmo, os autores questionam a legitimidade da cosmologia judaico-cristã que exerce grande influência na cultura ocidental. Inferimos, portanto, que a mentira inventada da qual o filme fala é justamente tal concepção de mundo materializada nos dogmas das religiões cristãs. Enquanto cientistas sociais, penso que buscarmos respostas para a existência ou não de Deus é um investimento infrutífero, antes, num olhar mais atento, percebamos que diferentes coletivos humanos no decorrer do tempo têm maneiras diferentes de se relacionar com o sagrado, com algo que transcende a experiência humana, atribuindo a ele explicações para os fenômenos da natureza assim como respostas às questões existenciais acerca da condição humana. Atentar ao processo como essa relação é construída, aos valores e significados a ela atribuídos e de como isso repercute na fabricação da realidade social, criando visões de mundos que se conflitam o tempo todo numa luta para quem se estabelece como “a verdade, pode ser um terreno de análise muito mais fértil.

* Bruno Duarte
Rastros Urbanos



REFERÊNCIAS
MAFFESOLI, Michel. No Fundo das Aparências. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1996.
SOUZA FILHO, Alípio. Por uma teoria construcionista. Natal,  Café filosófico, 2010. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=diEKIH9W7QE> Acesso em 31 mar 2013.
SILVA, Cristina Maria da. Rastros das socialidades: Conversações com João Gilberto Noll e Luiz Ruffato. (Doutorado em Ciências Sociais) Programa de Pós – Graduação em Ciências Sociais. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009



[1] MAFFESOLI, Michel. No Fundo das Aparências. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1996.

* Texto escrito por ocasião da II Mostra Cinematográfica Alteridades e Práticas Urbanas, durante as sessões organizadas pelo grupo Rastros Urbanos. O evento fez parte da programação de abertura do semestre letivo 2013.1 do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará - UFC.